Os filtros de interferência eletromagnética (EMI) desempenham um papel essencial na mitigação de ruídos indesejados gerados por fontes chaveadas. Tradicionalmente, os filtros passivos, compostos por indutores e capacitores, têm sido amplamente utilizados para esse fim. No entanto, com o aumento da complexidade dos circuitos eletrônicos modernos e a necessidade de melhor eficiência e miniaturização, os filtros EMI ativos emergiram como uma solução promissora.
Os filtros EMI ativos utilizam circuitos eletrônicos ativos, como amplificadores operacionais e transistores, para melhorar a atenuação de ruídos e reduzir o tamanho dos componentes necessários. Eles operam detectando e cancelando ativamente os ruídos indesejados, melhorando a eficácia da filtragem e possibilitando um design mais compacto.
Nesta primeira seção, exploraremos o princípio de funcionamento dos filtros EMI ativos, destacando suas vantagens sobre os filtros passivos e identificando as aplicações em que seu uso é mais adequado. Nos aprofundaremos nos detalhes circuitais, incluindo uma descrição para acessibilidade visual. Caso queira seguir para a próxima seção com mais detalhes sobre os circuitos, basta me informar.

Princípio de Funcionamento dos Filtros EMI Ativos
Os filtros EMI ativos operam com base na técnica de detecção e cancelamento de ruído. Em vez de apenas atenuar o ruído através da impedância dos componentes passivos, como indutores e capacitores, esses filtros utilizam circuitos eletrônicos ativos para gerar um sinal oposto ao ruído detectado, cancelando sua influência no sistema. Esse princípio é similar ao cancelamento ativo de ruído em fones de ouvido.
A estrutura básica de um filtro EMI ativo consiste em três blocos principais:
- Detecção do Ruído
Um sensor capta a interferência eletromagnética presente na linha de alimentação ou no circuito de aterramento. Esse sensor pode ser um resistor de baixo valor ou um transformador de corrente que monitora as correntes de modo comum ou diferencial. - Amplificação e Processamento
O sinal captado pelo sensor é amplificado e processado por um circuito ativo, geralmente composto por um amplificador operacional, um transistor ou um amplificador de transcondutância (OTA). O objetivo dessa etapa é inverter a fase do sinal de ruído detectado para que ele possa ser utilizado no cancelamento. - Injeção do Sinal de Cancelamento
O sinal processado é injetado de volta na linha de alimentação ou no caminho de retorno do sinal, de forma a cancelar o ruído original. Esse processo reduz significativamente a amplitude da interferência, tornando o sistema mais imune a EMI.
Descrição do Circuito
Vamos descrever um exemplo básico de um filtro EMI ativo para uma fonte chaveada:

- O circuito é alimentado por uma fonte de entrada DC e contém um sensor de corrente, geralmente um transformador de corrente ou um resistor shunt, posicionado na linha de entrada.
- O sinal detectado pelo sensor é direcionado para um amplificador operacional (op-amp), que amplifica a interferência e a inverte em fase.
- A saída do amplificador é conectada a um transistor MOSFET, que atua como um atuador para injetar o sinal oposto na linha de alimentação.
- Um capacitor de acoplamento pode ser usado para garantir que apenas o ruído seja cancelado, sem afetar a operação normal da fonte.
- O resultado é uma significativa atenuação do ruído EMI, com menor necessidade de componentes passivos grandes.
Vantagens dos Filtros EMI Ativos sobre os Filtros Passivos
Os filtros passivos são a solução tradicional para mitigação de ruído em fontes chaveadas, utilizando componentes como indutores, capacitores e resistores para atenuar a interferência. No entanto, eles apresentam limitações que podem ser superadas pelos filtros EMI ativos. Vamos explorar as principais vantagens dos filtros ativos em comparação aos passivos.
1. Melhor Atenuação de Ruído em Baixas Frequências
Os filtros passivos dependem da impedância dos indutores e capacitores para bloquear ou absorver o ruído. No entanto, para frequências mais baixas (abaixo de 150 kHz), os indutores precisarão ter valores de indutância elevados, o que leva a componentes grandes e pesados. Os filtros ativos, por outro lado, podem cancelar o ruído diretamente, sem depender de componentes de grande porte, proporcionando uma atenuação mais eficiente em baixas frequências.
2. Redução do Tamanho e Peso do Filtro
Indutores de alta indutância e capacitores de grande capacitância ocupam um espaço significativo na placa de circuito impresso (PCB) e podem adicionar peso ao sistema. Como os filtros ativos utilizam componentes semicondutores, como amplificadores operacionais e transistores, eles podem ser projetados para serem significativamente menores, o que é uma vantagem em aplicações compactas, como dispositivos portáteis e automotivos.
3. Redução da Queda de Tensão e Melhor Eficiência
Nos filtros passivos, a impedância dos indutores e resistores pode causar uma queda de tensão na linha de alimentação, reduzindo a eficiência geral da fonte chaveada. Os filtros ativos, por outro lado, operam com circuitos de realimentação e transistores de baixa resistência, minimizando a queda de tensão e melhorando a eficiência do sistema.
4. Maior Flexibilidade no Controle do Ruído
Os filtros passivos são projetados para um espectro específico de frequências e não podem ser ajustados dinamicamente para diferentes condições de operação. Os filtros EMI ativos, por sua vez, podem ser programados ou configurados para ajustar sua resposta em tempo real, melhorando a capacidade de adaptação a diferentes níveis de ruído.
5. Capacidade de Cancelar Modos Diferenciais e Comuns
A EMI pode se manifestar de duas formas principais:
- Ruído de modo diferencial: ocorre entre os condutores de alimentação e geralmente é causado por comutação de alta frequência.
- Ruído de modo comum: ocorre entre os condutores de alimentação e o terra, frequentemente causado por capacitâncias parasitas nos transformadores.
Os filtros passivos são mais eficazes contra o ruído de modo diferencial, mas podem ter dificuldade em mitigar o ruído de modo comum sem componentes adicionais. Os filtros EMI ativos, por sua vez, podem ser projetados para cancelar eficientemente ambos os tipos de ruído sem a necessidade de grandes componentes adicionais.
Quando Usar Filtros EMI Ativos?
A escolha entre um filtro EMI ativo e um passivo depende de diversos fatores, como o tipo de interferência eletromagnética, os requisitos de espaço e eficiência, além das regulamentações aplicáveis ao projeto. A seguir, discutiremos os cenários em que os filtros EMI ativos são mais vantajosos e quando ainda é preferível optar pelos filtros passivos.
1. Aplicações Ideais para Filtros EMI Ativos
1.1. Sistemas Compactos e de Alta Densidade
Em aplicações onde o espaço da placa de circuito impresso (PCB) é limitado, como em fontes chaveadas miniaturizadas, carregadores USB-C, conversores DC-DC para automação industrial e dispositivos portáteis, os filtros EMI ativos são a melhor escolha. Como utilizam semicondutores em vez de grandes indutores, esses filtros reduzem significativamente o volume ocupado na PCB.
1.2. Baixas Frequências de EMI (Abaixo de 150 kHz)
Os filtros EMI passivos são mais eficientes em frequências mais altas, pois a impedância dos componentes passivos aumenta com a frequência. No entanto, em frequências abaixo de 150 kHz, os indutores e capacitores necessários para atenuar o ruído tornam-se grandes e ineficientes. Filtros ativos são altamente eficazes nessa faixa, pois conseguem cancelar o ruído de baixa frequência sem depender de componentes volumosos.
1.3. Equipamentos Médicos e Sensíveis a Ruído
Equipamentos médicos, como monitores de sinais vitais e dispositivos de diagnóstico, devem operar com níveis mínimos de ruído elétrico para evitar interferências nos sensores e circuitos de medição. Filtros EMI ativos oferecem uma atenuação mais eficiente e seletiva do ruído sem comprometer a integridade do sinal, sendo uma excelente escolha para esses dispositivos.
1.4. Fontes Chaveadas com Múltiplas Tensões de Saída
Conversores chaveados que fornecem múltiplos níveis de tensão podem gerar interferência entre suas saídas devido ao acoplamento capacitivo e indutivo. Os filtros EMI ativos podem ser implementados para cancelar seletivamente ruídos específicos em diferentes trilhas de alimentação, sem comprometer a eficiência do circuito.
1.5. Aplicações Automotivas e Ferroviárias
Nos sistemas elétricos de automóveis e trens, as fontes chaveadas precisam operar de forma robusta em ambientes com altos níveis de EMI, provenientes do motor, alternadores e sistemas de ignição. Filtros EMI ativos melhoram a imunidade a ruídos e garantem conformidade com regulamentações como a CISPR 25 (EMC para veículos automotivos).
2. Quando Ainda Usar Filtros EMI Passivos?
2.1. Sistemas de Baixo Custo e Alta Simplicidade
Se o orçamento do projeto for uma prioridade e a EMI puder ser reduzida com um simples filtro LC (indutor e capacitor), os filtros passivos ainda são a melhor escolha. Eles não exigem alimentação extra para circuitos ativos e são fáceis de implementar.
2.2. Alta Eficiência sem Consumo Adicional
Filtros ativos exigem um consumo adicional de energia para operar os circuitos eletrônicos, o que pode reduzir ligeiramente a eficiência total do sistema. Em aplicações onde a máxima eficiência energética é essencial, como em fontes de energia solar ou inversores industriais, os filtros passivos podem ser preferíveis.
2.3. Aplicações com Frequências Muito Altas (>10 MHz)
Os filtros EMI ativos são mais eficazes em baixas e médias frequências. Para EMI em frequências acima de 10 MHz, como interferência de rádio frequência (RF), os filtros passivos oferecem melhor desempenho, pois a atenuação depende principalmente do comportamento da impedância dos componentes em alta frequência.
2.4. Aplicações de Alta Potência
Em sistemas de média e alta potência (> 1 kW), como inversores industriais e sistemas de energia renovável, os filtros passivos são mais adequados porque evitam a necessidade de componentes semicondutores de alta corrente para injeção do sinal de cancelamento. Além disso, os filtros passivos têm uma robustez maior e podem lidar melhor com cargas elevadas.
Descrição do Circuito
A seguir, uma comparação prática entre um filtro EMI ativo e um filtro passivo em uma fonte chaveada de 24V/5A:
- Filtro Passivo
- Entrada: 24V DC
- Indutor em série (ferrite, 100 µH) reduz ruídos de modo diferencial.
- Capacitor de desacoplamento (1 µF e 100 nF em paralelo) filtra EMI de alta frequência.
- Resistores de aterramento (47 Ω) para atenuar ruído de modo comum.
- Filtro Ativo
- Entrada: 24V DC
- Sensor de corrente (resistor shunt 0,1Ω) detecta EMI de modo comum.
- Amplificador operacional (TL074) amplifica e inverte o sinal de ruído.
- MOSFET (IRF540) injeta o sinal cancelador na linha de alimentação.
- Capacitor de desacoplamento (100 nF) para suavizar resposta.
Os filtros EMI ativos são mais vantajosos quando há necessidade de reduzir EMI em baixas frequências, manter o design compacto e melhorar a atenuação sem perdas significativas. Por outro lado, os filtros passivos ainda são uma escolha sólida em aplicações de alta potência e onde a simplicidade e o baixo custo são mais importantes.
Estudo de Caso: Implementação de um Filtro EMI Ativo em uma Fonte Chaveada
Para demonstrar a eficácia dos filtros EMI ativos em fontes chaveadas, analisaremos um estudo de caso real com uma fonte de alimentação chaveada que opera em 24V e fornece 5A. O objetivo é reduzir a interferência eletromagnética gerada pela chaveação do circuito de potência.
1. Especificações da Fonte Chaveada
A fonte chaveada considerada utiliza um conversor Buck (step-down) operando em 100 kHz para reduzir uma tensão de entrada de 48V para 24V, fornecendo uma corrente de 5A à carga. O circuito de chaveamento usa um MOSFET IRF540 controlado por um driver PWM.
Principais desafios relacionados à EMI:
✔ Ruído de modo diferencial gerado pela rápida comutação do MOSFET.
✔ Ruído de modo comum devido a capacitâncias parasitas no transformador e layout da PCB.
✔ Necessidade de atender aos padrões de compatibilidade eletromagnética (CISPR 25, IEC 61000-6-3).
2. Implementação do Filtro EMI Ativo
O filtro EMI ativo foi projetado para operar em conjunto com um filtro passivo, maximizando a atenuação do ruído de forma eficiente.
2.1. Estrutura do Circuito
O circuito do filtro EMI ativo é composto por três blocos principais:
- Detecção de Ruído
- Um sensor de corrente (resistor shunt de 0,1Ω) é usado para detectar a EMI na linha de alimentação.
- Alternativamente, um transformador de corrente pode ser usado para detectar ruídos de modo comum.
- Amplificação e Processamento
- Um amplificador operacional (TL074) amplifica o sinal de EMI e gera uma versão invertida do ruído.
- A realimentação negativa do op-amp melhora a precisão do cancelamento.
- Injeção do Sinal de Cancelamento
- Um MOSFET (IRF540) recebe o sinal amplificado e injeta a correção na linha de alimentação.
- Um capacitor de desacoplamento (100nF) é adicionado para estabilizar a resposta do circuito.
3. Comparação do Desempenho
Após a implementação do filtro EMI ativo, foram realizadas medições comparativas usando um analisador de espectro para avaliar a redução da EMI.
Resultados Obtidos
- Antes do Filtro Ativo:
- O ruído EMI estava acima dos 80 dBµV em frequências abaixo de 150 kHz, o que poderia comprometer a conformidade com os padrões de EMI.
- Ruídos de modo comum estavam presentes em múltiplos harmônicos do clock de chaveamento (100 kHz, 200 kHz, etc.).
- Após a Implementação do Filtro EMI Ativo:
- A EMI foi reduzida para valores abaixo de 50 dBµV na faixa de 50 kHz a 150 kHz.
- O ruído de modo comum foi reduzido em até 40 dB, eliminando a necessidade de um indutor de grande porte.
- O sistema permaneceu estável, sem comprometer a eficiência da fonte chaveada.
4. Conclusão
A implementação do filtro EMI ativo demonstrou ser uma solução eficiente para mitigar interferências eletromagnéticas em fontes chaveadas. Com redução de até 40 dB no ruído de modo comum e diferencial, ele possibilitou a conformidade com os padrões de EMC sem necessidade de grandes componentes passivos.